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  • Ago

    26

    2022

Das compras aos estudos: como o metaverso funciona em diferentes setores

Especialistas discorrem sobre as oportunidades que o espaço de imersão virtual pode proporcionar ao mercado de finanças, energia, e-commerce e educação

 Depois que empresas bilionárias como Nike, Ralph Lauren e Meta (antigo Facebook) decidiram reforçar seus investimentos em realidade virtual e aumentada, o assunto é um dos mais comentados no mundo tecnológico.

Estudo global publicado pela McKinsey, aponta que grandes empresas, fundos de venture capital e private equity já investiram mais de US$ 120 bilhões em negócios ou ativos no metaverso, apenas nos primeiros cinco meses de 2022 — mais do que o dobro de tudo que foi investido em 2021.

Segundo o CEO e fundador da Bossanova Investimentos, João Kepler, o valor mostra que, sendo o futuro da internet ou não, o mercado tem interesse no setor.

“No momento, é tudo especulação em relação a como a cultura irá receber essa ferramenta, mas é um movimento importante de fazermos, porque essas marcas irão atrás de popularizá-la, assim como o Facebook fez com as redes sociais”, comenta Kepler.

Novo jeito de comprar deve mudar processos logísticos

As mudanças trazidas pelo metaverso podem impactar os processos que envolvem a logística por si só, como por exemplo a possibilidade de turbinar treinamentos operacionais e de compliance, já que a logística tradicionalmente tem o maior turnover dentre os departamentos de uma empresa. Porém, o maior impacto deve se refletir no e-commerce.

Segundo o diretor de vendas e CS na Manhattan Associates, Marco Beczkowski, algumas mudanças devem vir com o aumento das vendas no ambiente virtual.

“Entre os principais impactos que poderemos ver cito a redução em certos tipos de devolução como moda, acessórios e decoração, já que será possível experimentar virtualmente qualquer produto antes de realizar a compra”.

Ele ainda acrescenta que, “além disso, haverá uma maior tendência de personalização, dado que as pessoas vão querer materializar looks criados exclusivamente para o metaverso, o que deve aumentar o uso de impressão 3D. Eventualmente esse processo poderá ser feito nos próprios centros de distribuição para evitar maiores custos logísticos”.

Poder da simulação vai acelerar inovação no setor elétrico

A disponibilização de novos serviços, com dispositivos e plataformas cada vez mais ágeis, vai exigir um suporte de infraestrutura de rede.

“No setor de energia elétrica, um dos principais pontos de mudança é o aumento no tráfego de dados. Com mais equipamentos conectados e funcionando em alta velocidade, a necessidade de respostas mais rápidas será primordial”, explica o VP executivo na Way2, Danilo Barbosa.

A rede 5G, que começou a ser ativada no Brasil neste ano, deve facilitar as experiências imersivas no mundo virtual. Com conexões 20 vezes mais rápidas que o 4G, possibilidade de manter mais aparelhos simultaneamente na mesma rede e tempo de resposta entre dispositivo e servidor muito menor, o 5G vai possibilitar essa troca de informações de forma mais ágil e eficaz.

 

“Além desse suporte, um leque vai se abrir para as empresas de todas as áreas, assim como as de energia. O poder da simulação, por exemplo, pode acelerar a inovação para o setor”, explica Barbosa.

Processo de aprendizagem mais atrativo

A prática de lifelong learning já é entendida pelo mercado como essencial para a formação de um bom profissional. Com a aproximação maior entre o físico-digital que o metaverso proporciona, a educação ganha o potencial de se tornar imersiva e prática, o que pode fazê-la mais atrativa para os estudantes — principalmente aqueles da Geração Z, que já nasceram com autonomia e curiosidade frente à tecnologia.

Há muitos benefícios que o metaverso traz para o processo de aprendizagem, mas é preciso ter os pés no chão, segundo o CEO e fundador da Tera, Leandro Herrera. “Passaremos a ser mais ativos no nosso próprio ensino, mas é importante ressaltar que a implementação do metaverso no setor não é a realidade da educação brasileira, onde as escolas públicas ainda sofrem para disponibilizar amplo acesso à internet. O metaverso é uma possibilidade de longo prazo”.

Fintechs podem aproveitar aumento no volume de dados

As possibilidades que o metaverso oferece impactam diretamente o setor financeiro, afinal é um espaço onde negócios são realizados. O pagamento de serviços, a compra de produtos e investimentos acontecem assim como em ambientes comuns da “vida real”.

Tecnologias descentralizadas, como o blockchain e os NFTs (tokens não fungíveis), por exemplo, têm se destacado na discussão. Ao mesmo tempo, o Banco Central tem promovido discussões sobre como o ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi), NFTs e o metaverso podem ser integrados à plataforma do Real Digital.

Para o CEO da CashWay, Felipe Santiago, um dos pontos a ser observado dentro deste contexto é o aumento no volume de dados transacionados. “Há um número gigantesco, e que deve aumentar ainda mais, de dados percorrendo este espaço de imersão virtual. Para as instituições do mercado financeiro, eles são muito valiosos”, explica. Segundo ele, a facilitação de acesso aos dados dos consumidores e das empresas gera mais transparência e pode facilitar investimentos e negócios.

Aderindo ao metaverso com segurança no meio digital

Quando uma mudança tecnológica ocorre, sempre surge uma preocupação com a segurança.

De acordo com o CEO da Mediasoft, Fabiano Garcia, junto com inovações tecnológicas surgem sempre tendências de fraudes e falsificações, porque enquanto todos estão fascinados com a novidade, hackers procuram por vulnerabilidades e uma forma de passar despercebidos. 

"A identidade é a primeira coisa a ser atacada. O phishing pode aparecer no Metaverso em forma de um avatar, de um caixa em um lobby de banco virtual, ou uma réplica do seu diretor convidando para uma reunião virtual. Por isso, os mesmos cuidados que se tem no uso da internet devem ser replicados no Metaverso”, explica.

Garcia alerta que o primeiro passo é entender o que é o Metaverso, e para isso é preciso se educar. Existe uma curva de aprendizado que passa da empresa para seus consumidores;

 

Ele ainda sublinha que a entrada no Metaverso tem que ser coerente com a estratégia da empresa, sua comunicação e relacionamento com a marca. "Uma estratégia mal planejada pode criar custos desnecessários e ter efeito contrário e prejudicial à imagem da empresa".

O fundador da Invirtuoos, Gilberto Martini, destaca que todos os dados dos usuários são armazenados nos servidores da empresa detentora do Metaverso. Como estes dados serão usados vai depender da política de uso e compartilhamento de dados.

"No Brasil, a LGPD obriga as empresas que armazenam dados de usuários a informarem como os dados são tratados e compartilhados. O usuário, antes de acessar o Metaverso ou qualquer outra aplicação com ambiente virtual, deve aceitar ou não compartilhar seus dados", informa.

Nos “metaversos” que usam uma criptomoeda, diz Gilberto, a segurança é muito maior. Isto porque o usuário tem uma carteira digital, que por meio da tecnologia de tokenização, atualmente, é considerada impossível de fraudar.

Fonte: Portal Contábeis